Tive oportunidade de conhecer Aina Kaorner, em um ambiente de trabalho e logo percebi seu profissionalismo, capacidade de ouvir o outro e a percepção do que acontece em volta. Ela é jornalista,sim, mas não é somente isso. Descubra nesta entrevista, como Aina tenta desvendar os mistérios da profissão e a mente das pessoas.

Cj Martim: Conte um pouco sobre sua formação profissional e outras atividades que exerce.
Aina Kaorner: Sou formada em jornalismo e já atuei em praticamente todas as áreas da profissão: redação de revista, jornal diário, apresentadora de TV e assessoria de imprensa. Quando comecei a escrever para a editoria de comportamento despertou em mim uma vontade de me aprofundar nos estudos sobre a mente humana. Foi aí que comecei a navegar em outras áreas. Formei-me em terapia transpessoal, fiz aprofundamento em terapia familiar sistêmica e atualmente faço pós-graduação em psicanálise clínica.
Cj Martim: . É comum as pessoas dizerem que “a sociedade anda doente”. De fato, as pessoas têm noção da gravidade dessas doenças que vivemos no cotidiano?
Aina Kaorner: Em 1930, Freud já escrevia o livro “O mal-estar na civilização”. A doença da sociedade não surgiu agora, ela sempre existiu. Desde antes de Cristo, durante a Idade Média, em todos os períodos da história. O que mudam são as rotinas, os costumes, as leis, o sistema econômico, as novas tecnologias. Uma sociedade doente é feita de indivíduos doentes, por isso acredito na frase de Gandhi que diz: “Seja a mudança que deseja ver no mundo”.
Cj Martim: A profissão de jornalista costuma ser cruel com o profissional jovem e bem informado que luta para se sustentar?
Aina Kaorner: Recentemente, foi publicada uma pesquisa mostrando que o jornalismo está entre as dez piores profissões do mundo, com análise do potencial financeiro e da demanda de mercado. No site Observatório da Imprensa também foi publicada uma notícia que citava um edital de um concurso público, em Minas Gerais, que anunciava uma vaga para jornalista com o salário menor que o de um coveiro, que exigia apenas o ensino fundamental.
Posso analisar com propriedade o cenário do jornalismo na Bahia, no qual estou inserida. Temos apenas três jornais impressos de grande porte em funcionamento e as redações estão cada vez mais enxutas. Definitivamente não há espaço para todos, por mais competente que você seja. Se você realmente ama o jornalismo e ainda assim quer arriscar.
Cj Martim: Os inúmeros casos de pessoas se maltratando e matando suas parceiras (os), pode-se afirmar que é a falta de valorização pessoal, o chamado amor próprio?
Aina Kaorner: Esse assunto é bastante complexo. Não se trata apenas de falta de amor próprio. São várias questões que fazem com que a pessoa tenha esse comportamento. Depende da história de vida de cada um. É verdade que existe a falta de autoestima, o sentimento de posse, a sensação de inferioridade em relação ao outro, além de outros fatores.
Cj Martim: O que acha da agressividade nas redes sociais, principalmente nessa época de eleição, onde não se respeita a opinião dos outros e a vaidade salta aos olhos?
Aina Kaorner: O cyberbullying é um fenômeno moderno que ocorre principalmente porque a internet permite o anonimato. Nem Chico Buarque escapou dos “haters”, como são chamados aqueles que vivem disseminando ódio e comentários preconceituosos na internet.
Cj Martim: Acredita em sorte ou acaso?
Aina Kaorner: Não acredito em acaso. Concordo com Voltaire, que diz que “o acaso não existe: tudo é ou provação, ou punição, ou recompensa, ou previdência”. Nesse ponto tenho uma visão bem espiritualista. Acredito na lei da causa de efeito e a sorte é uma consequência dos seus atos. Acreditar em destino também me tranquiliza, pois evita a frustração. Traz-me uma sensação de conforto e me dá resignação para aceitar que não posso controlar o mundo.
Cj Martim: O que salva e o que ilude as pessoas?
Aina Kaorner: Acredito que a arte salva e o que ilude as pessoas são as certezas, as verdades absolutas.