Felipe Martins é nadador e modelo. Não pense que o caminho anda sendo fácil. Felipe precisou realizar uma viagem ao fundo do ego, se construir, se desconstruir, para, finalmente, se tornar um homem consciente das suas capacidades e limitações. A moda costuma passar uma frieza estampada no rosto dos modelos, assim como os atletas, que poucos sorriem. Felipe com o olhar, consegue humanizar esse estereótipo, que cerca as duas profissões.
Vamos conferir essa entrevista, que me orgulha em ter se tornado possível, porque pela primeira vez, percebi em um modelo, uma consciência do seu lugar no mundo e, do atleta, uma falta de ansiedade demasiada para provar algo. Felipe Martins é o que ele quiser ser.

Foto: Reprodução/ Assessoria
Cj Martim: Disciplina é algo que aprendeu desde cedo ou as exigências do cotidiano direta ou indiretamente obrigam para isso?
Felipe Martins: Desde cedo, à palavra disciplina sempre foi prioridade na minha família. Quando criança, sempre tive horário para dormir, manter nota boas na escola, ajudar na limpeza e conservação da casa… Sempre aprendi que a disciplina é essencial em qualquer esfera da vida, isso futuramente me ajudou muito nos trabalhos como modelo e nadador.
Cj Martim: Quando teve a percepção que gostaria de ser um nadador?
Felipe Martins: Sempre tive dificuldade em outros esportes… Nas aulas de educação física, sempre era o último a ser escolhido para os times de futebol, handball e basketball. Isso me deixava bastante chateado… Comecei a fazer aulas de natação de fim de semana, porque eu era muito, muito magro e estava começando a ter problemas posturais. Certa vez, numa olimpíada escolar, me escalaram para ser o nadador da equipe, eu ganhei, e senti que, talvez, eu levasse algum jeito para essa modalidade. Continuei com as aulas junto do meu irmão e fomos para a primeira equipe competitiva juntos.
Cj Martim: O esporte realmente tem força para livrar as pessoas da marginalidade? Como convencer jovens do poder do esporte, sendo que vivemos em uma sociedade imediatista, onde resultados são cobrados intensamente?
Felipe Martins: Essa é uma excelente pergunta! Como atleta há quase 20 anos, a resposta pra mim é fácil, por toda a vivência e aprendizado que tive… Mas sei que para pessoas que nunca foram atletas é difícil entender como o esporte pode transformar alguém. Quando vemos o esporte de rendimento na TV, as medalhas é como observar a ponta de um iceberg, aquela parte visível que fica fora da água… O que realmente importa está escondido, imprensa nenhuma vê e, é o que realmente transforma as pessoas… Esse é o “processo” de treinamento, renovação de sonhos, superação de desafios, gestão de pessoas, trabalhos sociais, sonhar e realizar.
As pessoas não entendem que não é preciso chegar ao topo do alto rendimento para ter os benefícios do esporte. Acho que é difícil convencer a população leiga sobre isso, mas uma boa saída seria trazer a iniciação esportiva para o desenvolvimento escolar das crianças nos moldes dos EUA. Aqui no Brasil, as crianças geralmente tem um contato fraco e limitado com o esporte nas aulas de educação física.

Foto: Reprodução/ Assessoria
Cj Martim: A carreira de modelo surgiu por acaso? O ego não se eleva com elogios ao seu corpo e virando referência para tantos jovens que desejam seguir a profissão?
Felipe Martins: Antes de “modelar”, trabalhei com muitas outras coisas para me sustentar como atleta; bartender, garçom, salva vidas, recreador infantil, guia turístico dentre outros… Em um evento desses, conheci uma modelo de SP, ela me contava sobre a vida fashion e me dizia que eu até que levava jeito. Assim, ela me indicou para uma agência, a princípio, eles me recusaram por foto, pois eu não era nada fotogênico, depois aos pedidos de minha amiga, eles voltaram atrás e me chamaram, duas semanas depois, eu já estava no Fashion Rio e um mês depois ,já estava em Nova York. No começo, eu não sabia lidar com o assédio, muitas vezes o ego se elevou muito e sinto que tive atitudes que não foram legais com muitas pessoas. Hoje, mais maduro, entendo como tudo funciona, e sei puxar o “freio de mão”, quando o ego e a autoestima começam a inflar demasiadamente.
Cj Martim: Pratica também o chamado “mergulho emocional”? Como funciona a sua mente no esporte e quando estiver modelando?
Felipe Martins: Sempre tive dificuldade de lidar com minhas emoções. Isso me prejudicou tanto na vida de atleta, como na montanha russa de altos e baixos da moda,assim como na minha vida pessoal, principalmente, em relacionamentos. Há dois anos, comecei a fazer terapia com uma excelente psicóloga e senti que minha vida, meu dia a dia, se transformaram em algo muito positivo. Não foi fácil, lidar com a mente requer muito treino e atenção 24h por dia, assim como um elevado autoconhecimento! Hoje, também tenho acompanhamento de uma psicóloga esportiva para me ajudar a lidar com toda a pressão, decepção e superação do dia a dia.
Cj Martim: Quais projetos para 2016?
Felipe Martins: O ano de 2016 promete ser um ano de grandes mudanças. E sempre vejo mudanças na minha vida como algo positivo.Existe uma olimpíada no Brasil, TODOS os atletas querem estar lá e eu também. Devo dar continuidade a minha empresa de assessoria esportiva (sou formado em educação física e treinador de natação e triathlon, inclusive, já tenho atletas pré-classificados para RIO 2016).Devo também, no final do ano, terminar minha carreira profissional de natação e me voltar durante um ano para as semanas de moda internacionais. De qualquer forma, também não quero deixar de lado minha vida pessoal, namorar, viajar e curtir minha família.Tudo o que faço é com amor, dessa forma até hoje nunca trabalhei um dia na minha vida!