“Não acredito na fama, toda fama é efêmera. Acredito na construção de uma carreira”

Acabou-se o tempo que atores, no encerramento de uma novela, passavam longos meses curtindo férias, com a desculpa de descansar a imagem e curtir a família. André Bankoff, ator e nosso entrevistado da semana, acumula vários projetos profissionais, desde o fim da novela Babilônia, dos autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, e já se encontra em cena, com a peça A Reação, com a direção de Clara Carvalho.

A peça aborda esse mundo superficial e angustiante, onde a “nuvem” de antidepressivos, surgem como salvação. Será? Questiona a peça. André Bankoff tinha dois caminhos para seguir: se acomodar no posto de galã e passar a vida toda respondendo a perguntas superficiais da imprensa “Como é ser galã?” ou realizar um mergulho profundo pela profissão, se despindo de vaidades e consumindo bastante conhecimento. Felizmente, preferiu a segunda opção. Não tenha medo do olhar do André. É o olhar de quem mergulha pela arte, em todo os níveis.

André Bankoff. Talento, dedicação e disciplina. Foto: Reprodução
André Bankoff. Talento, dedicação e disciplina.
Foto: Reprodução

Cj Martim: Você se sente, como se tivesse saído de sua casa simples e sendo catapultado para um grande palácio, onde as pessoas admiram sua beleza, choram com sua presença, sorriem, apertam sua mão e da em você, uma pane, uma sensação que não deve acreditar em nada e ninguém nesse universo da fama?

André BankoffNão acredito na fama, toda fama é efêmera. Acredito na construção de uma carreira que é totalmente diferente disso que vemos hoje em dia, uma ascensão rápida e instantânea de muitos atores sem base nenhuma. Carreira se constrói passo a passo, com muito suor e dedicação. Sou um cara do teatro, as pessoas não sabem muito de onde vim, sou um ator do palco, o cara que estica o linóleo, as cortinas, ajuda a montar a luz, passar o som, e ainda fazer a contra-regragem,gosto disso. A moda, o ser modelo, foi uma passagem pra tirar um troco nos momentos das “vacas magras”. O palco é e sempre será o meu arroz com feijão, minha base de tudo.

Cj Martim: O teatro é o alimento principal do ator?

André Bankoff: Pra mim sim, acho que já respondi na pergunta anterior. O teatro é onde aprendo e me reciclo a cada montagem. Não vivo sem ele…

Cj Martim: Como não enlouquecer com acúmulos de personagens ao longo da carreira? E quando realidade e ficção se misturam? Quem estende a mão para um ator, quando seu caos interno grita e literalmente invade seu trabalho?

André BankoffNesse momento sai de Babilônia, onde interpretava o Pedro, há um mês e meio atrás, e já estreei no teatro com o Grupo Tapa “A Reação”, com o personagem Tristan, e estou me preparando pra filmar o Daniel no cinema, e logo em seguida, outro longa, onde viverei Gabriel… (risos) .

São vários personagens e todos distintos um do outro, mas amo estar dentro de cada um deles, não acho isso um caos, isso é reflexo de um trabalho bem feito, onde o resultado sempre se encaminhará para o próximo personagem que me desafie como ator. Que bom que é assim, não saberia ficar em casa à espera de um papel. Esse é meu ofício, dou vida a outras vidas, e vivo cada uma intensamente. Obrigado Deus por ter me feito ator!

maxresdefault
Peça “A Reação”. Espetáculo aborda efeitos dos antidepressivos na vida das pessoas, em uma análise crítica. Foto: Reprodução

 

Cj Martim: Vamos falar da sua nova peça “A Reação”. Como surgiu o convite ou iniciativa de integrar esse projeto?

André Bankoff: Faço parte a quatro anos do grupo de estudos e pesquisas da companhia de teatro Grupo Tapa. Antes de iniciar Babilônia, já havia me comprometido com o projeto, então, assim que encerrei a novela, voltei direto pra São Paulo, para iniciar a construção do Tristan para “A Reação”. 

Cj Martim: Vivemos em um caos externo e interno. Para se livrar do caos externo, só podemos contar com a sorte, para se livrar do caos interno, então, somos conduzidos a uma série de medicamentos, onde vivemos apáticos, controlando nossas emoções internas que gritam e pedem socorro. Isso seria uma boa síntese dessa peça? O que acrescentaria ou discorda, ou como reformularia seu entendimento sobre o espetáculo?

André Bankoff : Sempre estamos cercados pelo caos da vida, porém, nesse exato momento, estamos passando por certa tendência da obrigatoriedade de “estarmos felizes sempre” a qualquer custo, 24 horas por dia. Vemos isso nas redes sociais explicitamente, e acho que é bom exemplo, até porque ninguém aparece no Instagram chorando, reclamando ou pedindo dinheiro. As pessoas estão sempre lindas, sorrindo, felizes… Sempre! E isso não é real, temos sim nossa felicidade, mas também lidamos com nossas perdas e lutos durante a vida. E qualquer pessoa que fuja desse modelo padrão da felicidade e procure uma ajuda médica, já é julgada uma forte candidata a depressão.

Precisamos respeitar cada fase de nossas vidas, saber o que realmente é isso tudo, não sou contra ao tratamento químico, mas também não acredito nele como a “fonte da felicidade” ou tão pouco como a “solução de todos os nossos problemas”. Penso apenas em viver um dia após o outro sem qualquer obrigação.

Cj Martim: Assistindo Babilônia, lamentei que a sua química com a Glória Pires, acabou não sendo muito bem desenvolvida ao longo da trama. Alguns personagens acabaram distanciando os dois. Essa é uma crítica pessoal. Como lida com críticas relacionadas ao seu trabalho e se algumas delas, já lacrimejaram seus olhos e impulsionou a fazer diferente?

André Bankoff: Minha resposta também será pessoal e posso discordar de você, como já estou fazendo (risos…). O Pedro, em Babilônia, começou pequeno e cresceu muito durante a trama, e isso só aconteceu pela química que eu e a Glorinha tivemos, caso contrário, meu personagem teria se perdido ou até morrido em alguma ocasião. A trama tinha o Thiago Martins, que desde o início seria o grande amor da vida dela, e isso são escolhas que os autores fazem, certas ou não, são escolhas que respeitamos e seguimos em frente fazendo o nosso trabalho.

O distanciamento dos personagens naquele momento se deu por conta do Pedro se envolver com a Paula, personagem que a Sheron Menezes fazia, mas mesmo assim, o Pedro continuava sendo o braço direito da Beatriz. Nunca apostamos no amor de Pedro e Beatriz, apenas no desejo do poder, no desvio de caráter de cada um deles, que se completavam em cena quando se encontravam. E quanto às críticas; Ah… toda crítica é pessoal, nunca será em massa, até porque as pessoas pensam de formas diferentes e tem visões distintas. E isso é bom, ruim seria se todos tivessem uma mesma conduta de pensamento. 

Cj Martim: Acredita que sequelas emocionais reais, indiretamente, acabam ajudando um ator a melhorar como profissional? As emoções não precisariam de esforço para serem impulsionadas, porque já existe ali, uma sensibilidade visível?

André Bankoff: Acredito em experiência de vida. Existem pessoas que já passaram por momentos difíceis e já viram coisas que outra ainda não viu. É lógico, que essa pessoa que tem uma vivência maior, vai saber muito mais do que a outra, que nunca passou por aquela experiência ou alguma situação emocional determinada qualquer. E isso eu falo independente do sexo, cor, idade, classe social… Vivência e experiência de vida acontecem em qualquer lugar do mundo, a qualquer hora e a qualquer momento, basta estar vivo. E isso pode ser sim, um grande baú de emoções para o ator usar a hora que ele achar necessário. 

Peça “A Reação”

Sexta 21h30
Sábado 21h00
Domingo 18h00
 
Teatro Vivo, em São Paulo.

 

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s