“Tenho sexto sentido aguçado”

O seriado “Malhação-Seu Lugar No Mundo” se aproxima da reta final, mas quem promete fazer muita falta é a personagem Nanda, interpretada pela atriz Amanda de Godoi, nossa entrevistada. Nesta entrevista exclusiva, ela comenta o seriado, fama, carreira e outros assuntos.

Tanta energia, tanta graça, tanta força. Amanda de Godoi é uma grata surpresa na TV. Suas palavras são intensas, a personalidade forte cativa e tenho à sensação que essa bela atriz vai  fincar seu nome em nossos corações, um xodó novo que conquistamos.

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Amanda de Godoi. Foto: Joana Costa /Divulgação.

Cj Martim: Fez algum teste para Malhação? O processo é árduo? Como controlar ansiedade sabendo que tem uma ótima oportunidade nas mãos?

AmandaFiz cerca de cinco testes para essa temporada. O primeiro, de nossa autoria, escrevi sobre um livro que eu estava lendo, ‘Fazendo meu filme – A estreia de Fani’ da Paula Pimenta, mineira que nem eu. Foi ótimo porque a história se passava em Belo Horizonte, então, eu sabia exatamente os lugares e reconhecia minha adolescência. Foi imprescindível pra que eu fosse aprovada para as outras fases. Fui fazendo os teste para várias personagens, até que um dia eu recebi um e-mail me agradecendo por ter participado dos testes, mas que ainda não era a hora. Eu fiquei bem chateada. No dia seguinte, recebi uma nova ligação me chamando para um teste que havia surgido, de uma personagem que o autor tinha acabado de escrever! Eu pensei :‘É agora! Tem que ser!’ 

O mais interessante é que sempre fazia testes para personagens doces, fofas e com cara de menina. Fazer o teste para Nanda foi sensacional, porque pude me jogar de cabeça. Acreditei, fui, fiz o meu melhor, rezei e deu certo, passei! Fui a última a entrar no elenco  da temporada. Chegou a acontecer uma reunião com os aprovados, mas eu não tinha feito o teste da Nanda ainda. Então, quando eu cheguei no dia dos workshops, todo mundo já se conhecia e eu não estava entendendo muito bem o que tava acontecendo, se eu já estava aprovada ou não. Só sei que quando me dei conta, já não dava mais pra comemorar porque tínhamos muito trabalho a fazer! Então, foi algo que fui digerindo durante o processo de construção da personagem e foi muito importante essa empolgação não externalizada pra que eu pudesse me entregar totalmente à Nanda.

Cj Martim: Integrar um elenco com atores jovens acaba dando um certo alívio em se perdoar, quando comete erros na execução do trabalho? Afinal, todos estão lá aprendendo e ainda no início da carreira.

AmandaComo a maioria dos atores, sou muito autocrítica. Eu sinceramente, achei que não daria conta de me ver na tela da TV. Mas me surpreendi e consigo assistir. E até preciso disso pra ver o que não funcionou na cena. Não tem jeito, não consigo assistir às minhas cenas como parte de uma história, eu só foco nos erros pra tentar não repeti-los. Não acho que tenho que fazer a cena com a possibilidade de me perdoar por errar. Apesar de ser meu primeiro trabalho na TV, não penso que ‘vale errar’, porque minhas cenas vão ao ar para mais de 90% das casas dos brasileiros. Isso dá uma pressão, mas tento não pensar nisso na hora do ‘gravando’. Mas penso enquanto estou estudando, por exemplo. Penso que tenho que doar o melhor de mim, mas posso perder a batalha. Nessa inconstância mora minha paixão pelo que faço e a vontade virginiana de ser a melhor de mim, mas também mora a noção de que sou um ser humano e completamente apta a errar, falhar e me frustrar.

Cj Martim: Qual foi seu último grito? O que desestabiliza seu emocional?

AmandaEngraçado, eu não costumo gritar. Talvez tenha gritado em 2012, numa briga de namoro (risos), mas na maioria das vezes, quando recebo noticias muito boas ou muito ruins, eu fico em silêncio. Prefiro digerir. Sou muito espevitada, sabe? Então, quando recebo algo que mexe com o meu emocional, eu paro e fico quieta. É meio louco, um caos tácito. O que me deixa desestabilizada é a mentira. Desde pequena meus pais me ensinaram que a pior pessoa é a mentirosa, porque você não sabe quando é que ela está falando a verdade ou não. Eu tenho um sexto sentido muito aguçado e aprendi a ler as feições de uma pessoa quando ela mente.

Dou muito valo para a palavra. Sou extremamente sincera e já magoei algumas pessoas por falar o que penso. Venho trabalhando a hora de falar, porque muitas vezes a pessoa não pediu nossa opinião, não quer ouvir o que achamos de tal coisa. Então, eu fico em silêncio e guardo pra mim. A palavra é muito bonita e tem um valor imensurável. Deve ser usada somente para transmitir a verdade, na minha opinião. Meu bisavô, AB Lopes Ribeiro, era poeta. Dizia que ‘A palavra é como abelha: tem mel mas tem ferrão’. Por isso eu dou muito valor à palavra. O mundo é de quem tem a palavra, o argumento. Algo tão poderoso não pode ser mal usado.

Cj Martim:  Consegue se assistir? Quais cenas do seriado chamaram sua atenção pelo seu desempenho?

AmandaPara a minha surpresa consigo e gosto de me assistir, mesmo que eu nunca tenha feito uma cena que ache perfeita. Gosto muito de quatro cenas: a que Fil e Nanda se declaram (‘Eu te amo Nanlipe’), a cena em que a Nanda conta pra Jessica que suas fotos vazaram e que o namorado não a apoiou, a que o irmão dela (BB) a apoia no caso da foto que vazou e a cena da pós primeira vez Nanlipe, que eles ainda estão na cama, mas a Nanda já mostra que não gostou. São cenas densas. As de comedia eu tenho várias que me marcaram, não consigo fazer uma síntese das melhores (risos). Nos divertimos tanto, mas tanto gravando, que, às vezes, vai pro ar uma cena em que a gente está rindo de verdade de alguma palhaçada, mas que encaixa na cena.

Cj Martim: O canal Viva reprisa temporadas antigas de Malhação. Já assistiu alguma?

AmandaEu assisti várias temporadas! Na época de Gui e Nanda, Leticia e Gustavo (época da Vagabanda), Betina e Bernardo, Lia e Dinho e Perina. Quando era mais nova, chegava da aula e ia correndo assistir! A última, eu acompanhei mais pela internet por causa dos meus horários, mas achei incrível também!

Cj Martim: A fama assusta? Já é reconhecida nas ruas? Qual é a sensação do país inteiro observando seu trabalho todos os dias?

AmandaNão me assusta, mesmo. Eu acho muito lindo o reconhecimento. Uma pessoa doar um tempo do dia dela pra se dedicar a você é um amor altruísta, de graça. Seja por admiração, empatia ou porque ‘o santo bateu’. Fico querendo retribuir, então, faço vários chats no twitter, por exemplo. O pessoal é muito engraçado, parece que somos amigos de escola. Nas ruas, as pessoas são muito legais comigo! Eu já logo abro um sorrisão, porque é extremamente gratificante ser reconhecido por um trabalho que eu amo tanto fazer.

Acordo cedo e agradeço por estar onde estou, não posso esquecer que vim de longe pra isso. Não quero que vire uma rotina de trabalho comum. Não perco meu olhar de admiração por trabalhar na TV, como não perco meu olhar de turista, mesmo morando no Rio há quase três anos. Isso faz com que minha alma não se torne local, ou seja, meus olhos sempre vão brilhar com as minhas conquistas.

Cj Martim:  A profissão de ator ainda sofre preconceito? Quais rótulos não aceita que são embutidos para classificar essa profissão?

AmandaAcho que a verdade é que a profissão anda muito desvalorizada. Vejo muita gente que só quer um espaço na TV, mas não se dedicou aos estudos. É completamente ilusória a ideia que ator somente pratica a atuação. Talvez seja por isso, que a profissão sofra preconceito, porque muitos ainda a veem como ‘um lugar ao sol’ e essas pessoas não se sustentam. Atuar em inglês é ‘to play’, um jogo, uma troca, mas pra trocar, tem que ter. É absurda a ideia que varias pessoas não conheçam os dramaturgos, encenadores, enfim, toda a base teórica do teatro, o berço da profissão.

Me formei na PUC Minas e faço constantemente cursos pra me reciclar, como da New York Film Academy (universidade americana que fiz o curso na Françaa) e o Sergio Penna, preparador de Cinema aqui do Rio, que é completamente genial. Também estudei teatro na Casa de Cultura Laura Alvim, aqui do Rio, em que aprendi muito também, mas que não consegui subir aos palcos com a turma por ter passado no processo da ‘Malhação’ e os horários não coincidirem mais. O rótulo que não gosto muito é esse de que a profissão é mais uma busca pela fama do que pela arte. Considero o reconhecimento parte do processo, mas fama de graça e vazia sem dúvidas, não é o objetivo traçado de um ator de verdade.

Cj Martim: Qual o primeiro conselho recebeu da sua família, quando teve certeza que queria seguir a profissão ?

AmandaEles não me levaram a sério. Sou de Belo Horizonte, minha família não tem nenhum artista famoso e meus pais achavam que pra entrar na Globo, você precisava de um contato, o que não era meu caso. Eles não me apoiaram por pura preocupação e vontade de me proteger. Mas eles viram que eu realmente não tirava a ideia da cabeça e que não me encaixava nos perfis normais da escola super tradicional em que eu estudava. Quando através dos argumentos os convenci que esse era o caminho que eu queria seguir, eles me apoiaram incondicionalmente e hoje morrem de orgulho de mim! Meus pais e minha irmã! Minhas maiores motivações quando eu fico triste por qualquer motivo. Sei que eles estão em Belo Horizonte e que vão me assistir. Isso me alegra e muda meu humor! Vou trabalhar satisfeita e com vontade de dar o máximo de mim. Por mim e por eles.

 

Já com clima de saudade de “Malhação- Seu Lugar No Mundo”? Não fique assim! Confira as entrevistas com duas estrelas que brilharam nesta temporada: Lívian Aragão e Lucas Lucco

Entrevista com Lívian Aragão (Júlia)- Entrevista (1)

Entrevista com Lucas Lucco ( Uodson) – Entrevista (2)

 

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