Gustavo Drummond é cantor, compositor e guitarrista do grupo musical Oceania. A banda “respira” rock moderno, propondo um novo conceito e sem rótulos enraizados.
Ao Cj Martim, o cantor revela como a música brasileira é vista no exterior, o discurso que defende o Oceania e comenta um pouco da “sociedade liquida” em que vivemos.
A música precisa de renovação, o público precisa de renovação e tudo precisa ser modificado para ter sentindo de existir. Gustavo abraça o novo, abraça tudo que sirva para ampliar e modificar mentes cansadas das mesmices atuais.

Cj Martim: Consegue definir seu estilo musical ou o artista não pode ficar limitado a um determinado segmento?
Gustavo Drummond: Meu estilo musical basilar é o rock, com o acréscimo de inúmeros inputs e influências diversas. Mais especificamente, é um rock visceral e minimalista em seus componentes (com três integrantes e apenas uma guitarra, baixo, bateria e voz), mas que se propõe a ser sofisticado e distinto em seu resultado final, principalmente no tocante às progressões harmônicas, construções melódicas e temas abordados nas letras.
Cj Martim: O artista atualmente tem total domínio da sua carreira ou essa posse se encontra em mãos de empresários? Por que tantos conflitos entre artes e negócios?
Gustavo Drummond: Não saberia dizer em escala global ou individualmente em relação a cada artista. O que posso responder é sobre o Oceania, que, no momento, atua pessoal e diretamente em todas as esferas de sua produção artística. Quanto aos conflitos, imagino que surjam, muitas vezes, pelo descompasso entre o desejo do artista de extrapolar convenções, em oposição ao pragmatismo dos negócios e a imperatividade de que a produção artística se traduza em números e resultados.
Cj Martim: Explica para o público leigo o projeto Oceania e quais dores e delícias que a sua realização vem enfrentando no caminho.
Gustavo Drummond: O Oceania é uma nova banda de rock, com letras em inglês (e eventualmente em português), que toca música autoral, cujo intuito é de se realizar artisticamente da forma mais pura possível, sempre em contato com o público que por nós se interessar de forma espontânea e sem preocupações com a sazonalidade ou expectativas dos mercados ou mídia tradicional.
Cj Martim: A música brasileira ainda é resumida à bossa nova lá fora? Os diferentes estilos musicais brasileiros quando divulgados no estrangeiro, causam estranheza?
Gustavo Drummond: Não. A bossa nova é apenas uma das muitas formas de expressão musical por aqui desenvolvidas e isso certamente é percebido por aqueles com o mínimo de conhecimento de causa. De acordo com minha experiência nos EUA, a música brasileira sempre atraiu olhares curiosos e despidos de preconceito por parte dos estrangeiros.
Cj Martim: Existem ótimos artistas, mas que no palco não rendem tanto e outros que rendem no palco, mas seus álbuns são monótonos e sem muito criatividade. Precisa existir um equilíbrio da performance ao vivo, alinhada ao trabalho que é feito nos estúdios?
Gustavo Drummond: Mais uma vez, não posso responder por outros artistas. Cada um faz suas escolhas e entrega performances conforme suas ambições e limites criativos. Posso responder apenas pelo Oceania. Nosso desejo é de não controlar nada com o olhar externo ao que fazemos. Nosso compromisso é com a visceralidade, pureza e adequação do que compomos e gravamos ao nosso senso de estética, bem como as performances ao vivo. Deixo o julgamento do resultado desse leque de intenções para o público.
Cj Martim: Qual seu discurso? O que defende? Qual perfil do público?
Gustavo Drummond: O discurso do Oceania está alinhado com a vertente libertária do rock, para que cada um de nós possa desenvolver e operacionalizar sua verdadeira vocação, com zero preocupações com o que “dá certo”, com o que “faz sucesso” ou com as expectativas típicas da mídia tradicional, ou até mesmo da sociedade. Pretendemos, nesse momento, ser totalmente independentes, fazendo shows e levando nossa música para todos que tiverem interesse em ouvi-la, sem qualquer distinção, por meio dessa ferramenta espetacular chamada Internet. Não temos interesse ou vocação para analisar perfis ou demografias.
Cj Martim: Já se desconstruiu como indivíduo nessa ‘sociedade líquida’ em que vivemos, como diz Zygmunt Bauman?
Gustavo Drummond: Meu desejo é de me comportar como a antítese do que é descrito por Bauman como liquidez. Busco pautar minha existência conforme sólidos e, paradoxalmente, encontro na abstração da música uma grande oportunidade de fomentar o meu autoconhecimento e viabilizar minha transcendência em relação à trivialidade do dia-a-dia, que tanto cerceia nossa liberdade e potencialidades como seres humanos.