Ronaldo Gutierrez é fotógrafo, diretor teatral e coreógrafo. Ao Cj Martim, ele revela suas impressões sobre a egotrip dos modelos, o universo da beleza e os novos projetos.
Em tempos de selfies, algumas vezes captando olhares frios e sorrisos amarelos, Ronaldo continua buscando a beleza interior nas pessoas. Parece algo comum, simplista, os pessimistas vão dizer utópico, mas só pessoas sensíveis entendem que o simples é o que basta!

Cj Martim: É preciso muita sensibilidade para ser fotógrafo? A emoção à flor da pele até que ponto é prejudicial ou benéfica?
Ronaldo Gutierrez: Não sei se é sensibilidade que precisa, sou mais muito estudo e muita vivencia. Você precisa de técnica para dominar a câmera e conseguir tirar dela tudo o que quer, e usar o que viveu para contar a historia que quer com a foto. Prefiro uma foto que conte uma história, do que uma bonita.
Cj Martim: Você movimentou os anos 80 e início dos anos 90 em casas gays paulistanas que investiam em grandes espetáculos. O que se diluiu dessa época?
Ronaldo Gutierrez: Entendendo o significado de ‘diluiu’ na pergunta como ‘desfazer’, penso que tudo. Hoje, não existe mais o mesmo cenário e propósitos de shows dos anos 80 e 90. É importante dizer que mesmo entre essas décadas, os espetáculos já sofriam adaptações e se modificavam de acordo com à procura dos clientes daquelas casas. Ou seja, tudo se diluiu usando as bases do que existiu anteriormente. Não quero dizer que o que se encontra hoje é melhor ou pior.
Cj Martim: Qual foi seu último grito? O que desestabiliza seu emocional?
Ronaldo Gutierrez: Beleza vazia. O que mais me irrita é modelo que sempre quer estar bonito, que não percebe a beleza de uma emoção pura. Uma imagem bonita sai de moda, uma emocionante entra para a história.
Cj Martim: Você coreografou o espetáculo “Rock Show”, dirigido pelo Wolf Maya. Os musicais, em geral, precisam ser injetados de “brasilidade” para funcionar aqui?
Ronaldo Gutierrez: Acho que não. Uma boa história sempre será cativante sem importar sua origem, mas acredito muito em musicais brasileiros, temos grandes compositores, escritores e músicos. Só precisamos aprender a ser mais profissionais.
“Defendo a transgressão, apesar de achar que eu ainda não consegui transgredir.”
Cj Martim: A egotrip de alguns modelos provoca em você: pena, antipatia, revolta ou complacência?
Ronaldo Gutierrez: Hoje em dia, já nem me provoca mais nada, simplesmente não trabalho com modelos assim. Já perdi dinheiro por conta disso, me recusei a fazer vários trabalhos, mas não me arrependi.
Cj Martim: Quais modelos brasileiros se destacam atualmente pela junção de carisma e beleza exótica?
Ronaldo Gutierrez: Tenho me apaixonado por alguns modelos transgêneros, acredito que serão a próxima beleza, ainda sonho em fotografar alguns, como Goan Fragoso e Daniel Nakamura.
Cj Martim: Vivemos em uma sociedade líquida como defende Zygmunt Bauman?
Ronaldo Gutierrez: Sem dúvidas. Não há como negar a existência de um novo cenário mundial que, devido à velocidade de mudança de espaço e do tempo, traz para nós somente incertezas. Incertezas políticas, sociais, educacionais. O homem se encontra em momento de enfraquecimento de forças estáveis preconizadas pela modernidade sólida. Na minha visão otimista, essa quebra de paradigma é muito rica, pois aflora novos pensamentos e novas criações e novas formas de enxergar o mundo.
Cj Martim: Quais novos projetos profissionais? Qual vai ser seu novo discurso? O que defende?
Ronaldo Gutierrez: Voltei a estudar fotografia cinematográfica e colorimetria. Quero aproximar mais meu trabalho do cinema e gosto de grandes produções, e meu discurso ainda é o mesmo de quando eu era bailarino: quero criar algo maior que eu, e ainda defendo a transgressão, apesar de achar que eu ainda não consegui transgredir.
Cj Martim: A beleza costuma ser cruel com pessoas imbecis?
Ronaldo Gutierrez: Ela é cruel porque fica sem propósito. As pessoas bonitas e imbecis acreditam que usam as pessoas por causa da sua beleza, não percebem que elas são as usadas.
Trabalhei com o Ronaldo Gutierrez quando coreografada aqui em São Paulo, aprendi muito e uso até hoje seus conhecimentos.
Excelente ser humano que sempre foi generoso conosco. E procuro carregar este aprendizado sempre. Acredito que seu trabalho e opiniões são reflexo deste imenso talento. Obrigado Guty
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Ronaldo é sensível. Sensibilidade faz toda diferença!
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