Germana Belo é uma das roteiristas da websérie RED, intitulada como a primeira série brasileira com temática lésbica, mas independente de direcionamentos, fala de amor e as dores e delícias que o cercam.
Rótulos, críticas, dificuldades de captação, narrativa, trilha sonora, interpretação e tantos outros assuntos abordados com EXCLUSIVIDADE, ao Cj Martim, pela roteirista da série.
O cantor Lulu Santos já dizia que toda forma de amor é justa. Claro, amor é algo natural, orgânico, depende de química de pele e amizade de sentimentos. O amor de duas mulheres, talvez, seja algo mais harmônico que possa existir, pois envolve a penetração do olhar em sentido amplo e o toque das mãos faminto pelo corpo, algo mais impactante que qualquer cena de sexo corriqueira.

Cj Martim: Vocês se definem como a primeira série brasileira com temática lésbica. Mas esse rótulo não prejudica à divulgação do produto, porque independente da orientação sexual, os conflitos abordados na série vão além de qualquer coisa?
Germana Belo: Pessoalmente, rótulos não me preocupam, e dizer que a série é de temática lésbica significa dizer apenas que retrata algum tipo de relacionamento entre mulheres, e não que trata de questões estritamente lésbicas. Não acredito que as pessoas entendam dessa maneira. Além disso, nunca tivemos a ambição de fazer um produto para todos, embora, logicamente, gostaríamos que chegasse ao máximo de pessoas. Temos um público alvo, que é não apenas o público LGBT, mas todos aqueles que gostariam de assistir uma história de amor entre iguais contada de maneira natural e realista, sem esbarrar na censura ou estereótipo. Como você disse, os conflitos abordados em RED vão além de questões de gênero ou orientação sexual, são conflitos humanos com os quais qualquer um poderia se identificar. Se alguém que não é exatamente parte do nosso público alvo assistir e gostar, maravilha, mas é o nosso público que queremos e nos preocupamos em agradar.
Particularmente, acho importante divulgar a série dessa maneira para que as pessoas saibam que algo desse tipo está sendo feito. Uma série brasileira protagonizada por duas personagens femininas (quatro, se você considerar Scarlet e Simone) homo/bissexuais. O que não é algo recorrente mesmo considerando o que é produzido em escala mundial. Ainda que, hoje, exista uma multiplicidade de personagens LGBT em séries e filmes, o protagonismo ainda é raro. Ademais, a qualidade dessa representatividade não acompanha a quantidade. E é para essa qualidade que buscamos contribuir.
Cj Martim: Enumere as principais dificuldades de captação de recursos para série e como o público pode diretamente participar no processo de concretização do projeto. As pessoas que ajudam têm espaço aberto para dar sugestões ou críticas?
Germana Belo: O único tipo de captação que tivemos até o momento foi o crowdfunding. Chegamos a tentar dois editais de incentivo do Governo, mas não conseguimos o apoio. A primeira temporada foi financiada pelos produtores – eu, Viv Schiller e Fernando Belo. Na segunda temporada, conseguimos pagar os custos de produção com o valor arrecado através de uma campanha de financiamento coletivo e doações. Em ambas as temporadas, todos os envolvidos, equipe e elenco, doaram seu tempo para a realização da série, ninguém ganhou por isso. A terceira temporada está sendo financiada por fãs através de uma segunda campanha de crowdfunding que fizemos em duas plataformas, uma nacional (Catarse) e outra internacional (Indiegogo). É assim que o público tem participação direta na concretização do projeto. No Brasil, ainda é difícil viabilizar projetos dessa maneira mas, felizmente, conseguimos o suficiente para fazer a nova temporada acontecer, mesmo que ainda com recursos muito limitados.
Como um típico produto da nova mídia, duas das características fundamentais de RED são o feedback interativo e a participação criativa. Através de nossas redes sociais mantemos contato direto com o público ouvindo o que eles tem a dizer e incentivando esse envolvimento de várias maneiras. Na terceira temporada, por exemplo, gravaremos uma cena extra escrita por uma fã. Ainda que as pessoas não tenham interferência direta na narrativa, tanto eu quanto a Viv (Viv Schiller; também roteirista da série) conhecemos muito nosso público e nossa criação sempre respeita o que sabemos que elas gostariam ou não de assistir. Até então, não temos ouvido reclamação.
Cj Martim: Quais as principais novidades da temporada? Alguma mudança brusca no roteiro?
Germana Belo: A narrativa segue no ritmo estabelecido nas temporadas anteriores. A história tem início algumas semanas após os eventos da segunda temporada. Veremos o desdobramento dos conflitos apresentados nos últimos episódios e como esses conflitos irão interferir no relacionamento das personagens. Uma boa novidade para os fãs é que, finalmente, veremos Mel e Liz como um casal.
Cj Martim: Quais fatores preponderantes que podem diluir (acabar) o trabalho de vocês?
Germana Belo: Basicamente, a falta de recursos financeiros é o que pode comprometer a continuidade do projeto, já que acredito que exista por parte de todos o desejo de levar adiante.
Cj Martim: Qual tipo de direção predomina na série? Os atores exploram mais a interpretação próxima ao realismo ou existe liberdade do exagero, da caricatura do ser? Quais critérios para trilha sonora e duração?
Germana Belo: Buscamos o realismo e isso também se reflete na direção. A série é gravada, predominantemente, com a câmera na mão ou utilizando sholder hig e steadicam. A direção dos atores acompanha essa proposta e busca o naturalismo nas interpretações. O Fernando é ator de formação e acredito que isto agrega muito a maneira como ele aborda a direção dos atores em cena.
O formato de episódios de curta duração, como para a maioria das webséries produzidas até então, não é exatamente uma opção mas uma solução para viabilizar a produção, já que não teríamos recursos para produzir episódios mais longos.
A trilha sonora, desde o início, foi pensada para ajudar a contar a história, e assumiu um papel de destaque na série.
* A websérie conta também com a direção do ator Fernando Belo; assistente de produção Caroline Moreira; as atrizes (com papeis principais) Luciana Bollina e Ana Paula Lima