Filmes, série e canal de poesia são os novos projetos do ator Caetano O’Maihlan.
Ao Cj Martim, o intérprete do saudoso guerreiro Setur na novela ‘A Terra Prometida’, da RecordTV, comentou sobre o que acredita ser o novo câncer do país.
É lindo o abraço de um artista com a poesia. Mistura de sensibilidade e compaixão. O olhar sensível de Caetano consigo, com os outros e com a arte é um fator fundamental para configurá-lo no mais alto nível de ser humano!

Cj Martim: O câncer do Brasil, atualmente, é o compartilhamento de notícias falsas nas redes sociais ou grandes empresas que tinham um imagem de credibilidade com o público, envolvidas em um mar de escândalos sem fim?
Caetano: O câncer do mundo é o distanciamento das relações seja pela projeção de seu avatar numa rede social ou através de uma empresa, que, no estatuto, responde por uma pessoa, não se sabendo ao certo quem é aquela pessoa jurídica.
O professor Dan Ariely fez um estudo que comprova a natureza desonesta do ser humano se acentuando quanto mais impessoal se torna a relação.
O câncer, portanto, para mim, é que estamos deixando de nos relacionar pessoalmente, afetivamente, horizontalmente, não entrando em contato com outro e nos transformando pelos mesmos, nos restando projetar o que nós esperamos do outro, entendimento que muitas vezes nem nasceu em nós, mas nos foi moldado por outros.
Cj Martim: A despedida do Setur, da novela ‘A Terra Prometida’, foi muito dolorosa? O desgaste físico e emocional para o personagem rendeu muitos pontos positivos?
Caetano: Muito bom trazer à luz do conhecimento do público o desgaste físico e emocional que os personagens demandam. Às vezes é tão grande que o ator não consegue nem desfrutar da glória do trabalho.
Mas, no caso do Setur, consegui que esse empenho fosse mais investimento do que desgaste, já que colhi grandes recompensas. Setur teve um crescimento ascendente na trama e, no final, provou do amor e da glória na conquista final da ‘A Terra Prometida’.
Cj Martim: Acredita que a palavra amizade vem sendo muito banalizada? A sua profissão permite verbalizar esse termo sem preocupações?
Caetano: Acredito que a amizade amadurece com tempo, se há afinidade. A partir do momento que ninguém tem mais tempo para nada, fica difícil se aprofundar na relação com qualquer coisa que seja, incluindo amigos. Estamos passeando pela superfície de tudo sem amadurecer em nada.
Nós, atores, pela natureza da nossa profissão, conseguimos atingir mais qualidade nas amizades. Digo isso porque passamos ciclos grandes nos processos de elaboração das obras; de 9 meses, quando fazemos novelas e de 12 anos, no caso da minha cia; mas, seja o tempo que for, é sempre muito intenso, já que nossa matéria é emotiva e inteligente, nos expomos muito e é preciso deixar as máscaras sociais de lado se quisermos fortalecer as relações necessárias para os personagens. Quando enxergamos as fragilidades, dificuldades do outro, nos reconhecemos humanos, o que gera empatia e nasce um sentimento de solidariedade que leva a uma linda amizade e que, às vezes, perdura após os trabalhos.
Cj Martim: Quais são seus novos projetos para TV? Conta um pouco dos filmes que vão ser lançados e se eles anunciam suas novas ambições no momento.
Caetano: Acabei de rodar a terceira temporada de Conselho Tutelar, da Produtora Visom, que é vendida primeiro para a Record, depois para Universal Chanel, Netflix. O tema central desses cinco episódios é a pedofilia. Eu carrego a responsabilidade de fazer um pedófilo. Um assunto que precisa urgentemente ganhar a luz do público, por isso o fiz com muita atenção, empenho e cuidado.
Tem o filme ‘Real, O Plano por trás da História’, um thriller de política em que faço o Otávio, namorado de Renata (Paolla Oliveira).
Em outubro está prevista a estreia de Copa 181, em que faço o Léo, um boy de sauna que, por ser casado, com filha, não se pensa gay. Ele tem uma relação com a travesti Kika (Silvero Pereira). A princípio parece só para tirar proveito financeiro dela, mas, quando ela decide por um fim ao abuso, ele reconhece que a ama e tem que encarar seu preconceito.
Me agrada poder fazer papéis tão distintos e que negam o meu estereótipo comercial de mocinho. Um presente a colher esse ano.
“Acredito que não há segurança para ninguém, até porque se sentir seguro te leva a uma zona de conforto”
Cj Martim: Qual sua opinião em relação ao contrato por obra? Isso não fornece uma instabilidade na carreira de um ator? A agonia com falta de trabalho pode comprometer o psíquico de um profissional, afinal, essa profissão depende muito de convites.
Caetano: Esse é um ponto nevrálgico da vida de 98% dos atores. Sem dúvidas, a pressão financeira pode desestabilizar todos, mas, com o tempo, a maturidade e espiritualidade vieram em meu socorro. Acredito que não há segurança para ninguém, até porque se sentir seguro te leva a uma zona de conforto que, se prolongada, é mortal para o desenvolvimento dos seres. Manter uma atitude positiva é determinante para atrair novos trabalhos. Há três anos que não demoram muito a aparecer novas oportunidades para mim. Para tanto, é imprescindível o ator estar sempre tocando seus próprios projetos. Isso não é mais uma opção.
“Sei de atores que têm dificuldade e, para eles, a televisão, em que o volume de texto é grande e dinâmico, é um suplício.”
Cj Martim: Quem acredita que vai segurar sua mão quando todos apontarem os dedos em direção a você?
Caetano: Minha família, sem dúvidas. Meus amigos de agruras, sempre. Aqueles poucos a quem podemos desabafar a existência ao telefone a qualquer momento entre 1h30 e 5h50.
Cj Martim: Qual sua relação com a memória e se acredita que uma atriz ou ator com pouca memória dificilmente decola na carreira.
Caetano: Graças a Deus tenho uma memória privilegiada para texto (para números, uma lástima). Consigo absorver o texto e me apropriar rápido. Sei de atores que têm dificuldade e, para eles, a televisão, em que o volume de texto é grande e dinâmico, é um suplício. Mas, não acho que exista nenhuma barreira para quem habita ser ator. As barreiras serão seus maiores professores.