Laay: ‘Uma das bandeiras que levanto é a valorização da mulher na cena eletrônica’

Laay. Foto\ Reprodução no Instagram

Entrevista exclusiva – Antes não era comum, agora é. Mulheres dominando as pickups e botando para dançar até os mais tímidos em pista de dança. Laay, produtora de música eletrônica e que vem dominando a cena no Rio de Janeiro, nesta entrevista, comenta um pouco sobre seu trabalho e tudo que esse tipo de música representa em um país, como o Brasil, que se rendeu ao gênero.

cjmartim: A Daniela Mercury introduziu a música eletrônica no carnaval de Salvador no início dos anos 2000, e foi vaiada. Hoje, camarotes e blocos se “lambuzam” desse tipo de música. Na sua visão, os brasileiros demoraram em consumir esse tipo de som?

Acredito que toda quebra de paradigma venha cercada de muita resistência. Quando Daniela Mercury, magistralmente, introduziu a música eletrônica no carnaval, estava inovando, trazendo para o público o que havia de novo naquela época. Naquele momento, por mais que não tivesse sido bem aceita sua ideia, a artista foi precursora, inovadora! E, assim como outras grandes ideias visionárias, essa não foi bem recepcionada. A música eletrônica está cada vez mais cotidiana para o grande público. Atualmente contamos com diversos estilos, diversas subvertestes e diversos artistas que embalam o público em outros formatos, muito por conta dos artistas que inovaram e quebraram barreiras. Acredito que o brasileiro teve seu tempo para introduzir a música em seu cotidiano. Por anos, o cenário da música eletrônica vem se consolidando, e de 2000 para cá, foram diversos os artistas que tiveram grande participação nessa transformação do gosto musical do ouvinte. Acredito que o brasileiro teve o seu tempo para entender a sonoridade envolvida nesse gênero musical. A cultura e os pensamentos tendem a se manter estáticos e as novidades necessitam de tempo para se consolidar.

Passamos primordialmente por um período onde a música começa a ser tocada aqui, posteriormente, artistas estrangeiros vieram se apresentar no Brasil e fizeram grandes shows, mas ainda sem nenhum nome brasileiro envolvido. A atual conjuntura do mercado da cena eletrônica é mais evoluída, temos incontáveis grandes artistas brasileiros que fazem a propagação do estilo musical com músicas autorais e muitos fãs. Hoje um DJ brasileiro por si só consegue fazer um festival acontecer, isso demonstra a maturidade da cena eletrônica no Brasil, acredito que estamos no caminho para ter a representatividade que esse ritmo tem na Europa, onde arrasta multidões em centenas de festivais. 

cjmartim: Como diferenciar a boa e a má música eletrônica?

Não acredito em boa e má música. Acredito em música como um estado da arte, e assim sendo muito subjetivo. Se somente uma pessoa gostar de uma música, ela será boa para esse ouvinte. 

A arte é subjetiva, seja o campo que for, o conceito do que é bom ou ruim dependerá sempre da interpretação do apreciador. A diferença entre uma música extremamente reconhecida e outra pouco conhecida está na amplitude do gosto musical dos ouvintes daquele som, seja o estilo musical que for. 

Músicas de muito sucesso em diversos gêneros têm uma sequência de acordes básica, sem muita alternância de sons e complexidade na elaboração, e tem um reconhecimento incrível, é boa para o público que gosta dela. Já músicas tecnicamente brilhantes, como a música clássica, não tem tanto reconhecimento para o público geral.

Acredito que o mesmo conceito se aplica a música eletrônica. Não existe “o bom” ou “o ruim”, certo ou errado, tudo depende da subjetividade do ouvinte. Existem diversas sub-vertentes dentro da House Music, como: Deep-House, Disco, Tech-House, Techno, Progressive-House, Brazilian Bass… Cada um com sua característica e seu público, todos bons ou ruins, depende de quem está ouvindo e seu nível de intimidade com aquele tipo de som. 

cjmartim: Pensa em uma parceria com Alok ou com o Dj Zé Pedro? Quais melhores Djs brasileiros?

Claro, grandes artistas! Alok é o DJ Brasileiro mais consagrado pelo grande público nacional e vem ganhando grande espaço na cena internacional. Tem repercussão incrível no exterior com grandes hits como “Hear me now” e “On & On”. Seria um grande prazer um dia poder trabalhar com ele. O Zé Pedro sempre inovador e artístico, DJ que nunca se apegou a paradigmas e quebrou barreiras. Os dois têm todo o meu respeito. 

O Brasil está repleto de talentos nas diversas sub-vertentes da música eletrônica, mas, sem dúvida, quando falamos de grandes artistas contemporâneos temos que falar de Alok e Vintage Culture. Alok por sua versatilidade, por ser um artista completo e muito profissional, por ter grandes hits e trabalhar com o grande público. Vintage Culture é um DJ que é muito comprometido, com incontáveis sucessos em sua carreira, brilhante também como artista e acredito que seja um dos melhores produtores musicais da atualidade, com uma sonoridade que agrada tanto os brasileiros como os estrangeiros. Já no âmbito feminino, temos algumas DJs mulheres que vem se destacando bastante como a DJ Samhara, Barja, Anna, Ashibah e GrooveDelight. 

Mas o mercado foi construído por diversos nomes e eu não poderia deixar de citar alguns que participaram dessa jornada e colaboraram para que a música eletrônica tivesse a aceitação que tem hoje, como o Zé Pedro, Fischetti, Meme, Tikos Groove. 

cjmartim: Conta, em detalhes, os seus novos projetos profissionais e se eles reagiram, na medida do possível, bem as mudanças por causa da pandemia. 

Apesar de ter 8 anos de carreira, o projeto Laay surgiu há 1 ano, com o intuito de expandir a música eletrônica para o público nacional trazendo uma sonoridade Europeia, inspirada em artistas como Leftwing: kody, Camelphat, David Penn, entre outros. A sonoridade do meu projeto ainda é pouco produzida e pouco conhecida entre o público geral no Brasil, porém observo que tem tido uma aceitação incrível. 

Nesse período tive muitas realizações, boas músicas lançadas com grandes gravadoras, fiz ótimas parcerias e mesmo sem agenda de eventos por conta da pandemia consegui transmitir música e alegria através de lives nas minhas redes sociais. 

Uma das bandeiras que levanto no projeto é a valorização da mulher na cena eletrônica e no mercado em geral, algo, em certos aspectos, que é ainda muito desigual, com preconceitos, propostas indecentes, salários mais baixos e menos oportunidades. Tem toda uma série de dificuldades que devem ser abolidas para que as mulheres tenham condições de igualdade e possam fazer o sucesso que merecem. Procuro fazer minha parte e sempre que possível usar vocais de mulheres em minhas produções. 

A Pandemia fez com que o projeto tivesse que se reinventar e tentar levar através das lives, que apelidei carinhosamente de “Laayve” (risos), a energia boa com muita música e alegria aos fãs nesse momento difícil para todos. Para minha surpresa, essa ideia teve uma repercussão melhor do que o esperado, sempre com muitos elogios dos fãs que assistem, e até relatos de como as lives têm ajudado a eles. Tudo isso me enche de gratidão e me faz acreditar que o trabalho está sendo bem-sucedido

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