Sarajane: “A cultura do nosso povo é muito rica e é isso que o turista quer ver”

Sarajane. Foto/ Divulgação.

“Vamos abrir a roda, enlarguecer”. Esse é trecho do hit “A Roda”, que movimentou o país na década de 80, com direito a clipe no Fantástico e dancinha icônica. A dona desse sucesso todo foi a cantora Sarajane, que marcou o início da axé music, mesmo enfrentando preconceitos. Com carreira consolidada, a cantora se apresentou no último sábado (2), no Dia da Independência da Bahia, na Praça Tereza Batista, no Pelourinho, para fazer uma verdadeira salada musical, com muito axé, forró e lambada. Em entrevista exclusiva, a cantora se mostra contente com a suposta mudança do circuito carnaval para o bairro da Boca do Rio, em 2023, e conta os novos rumos da carreira.

Cjmartim: Você canta muito bem salsa, merengue , axé e  já algum tempo passeia no forró. É importante o artista se permitir a salada musical em sua carreira?

Eu canto vários estilos, sempre fui muito eclética. Entre as 22 obras de carreira. Cantei clássicos brasileiros que vem na minha formação. Chorinho, salsa, bolero, músicas europeias africanas, as cantoras Dalva de Oliveira, Elizeth Cardoso, Ademilde Fonseca. Músicas instrumentais clássicas e o forró, sempre presente na minha memória afetiva, os clássicos de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Marinês, Jackson do Pandeiro e o coco embolado. Em todos os discos tem um forró e mais cinco discos só com vários estilos de forró, gravados em Pernambuco, com os mestres e compositores renomados do forró baiano, pernambucano, paraibano e cearense.

Cjmartim: Qual é a sua memória afetiva dessa época junina?

As quadrilhas juninas da escola que o professor Djalma, presidente do Gandhy, fazia. Era lindo! Os traques e chuvinhas, fogos inocentes, uma festa de fartura, cores e alegria. Sempre muito bom. Que as escolas nunca parem de mostrar a cultura para as nossas crianças.

Cjmartim: Provavelmente, o Carnaval de Salvador mudará de circuito indo em direção a orla da Boca do Rio. É uma iniciativa bacana do seu ponto de vista?

Acho que o Carnaval de Salvador tem muitos desafios, mas acho essa mudança maravilhosa. A Boca do Rio tem espaço, é um local lindo, dá pra colocar um Tribódromo, ou Axebódromo, como tem o sambódromo [no Rio de Janeiro]. E lá ter os blocos e camarotes, ter uma vila gastronômica, e beneficiar também tantos comerciantes que ali estão. Ter onde os trios dispersem melhor. O carnaval da Barra será menor e os moradores vão agradecer. O comércio continuará com o mesmo fluxo, acredito que o carnaval será maravilhoso também. O carnaval do Centro, que sempre foi muito organizado, está começando a tomar uma forma bacana, e o carnaval dos bairros é bom colocar palcos em locais como Farol da Barra, Cruz Caída, Palco no Terreiro, Palcos do Pelourinho e Santo Antônio, Ribeira, Uruguai e os já existentes mais organizados. Colocar artistas que tragam uma contrapartida bacana. Não só os da mídia atual, mas dá condições de trabalho, bons equipamentos, cachês dignos e respeito aos que fizeram e fazem o seu trabalho o ano inteiro, divulgando o nome da nossa terra para o mundo.

Cada vez que se fortalece a música baiana dando condições de trabalho, Salvador cresce no turismo, empreende. A cultura do nosso povo é muito rica e é isso que o turista quer ver. Eu, Difo, Osmar, Luiz, Gerônimo, Tatau, Pierry, Magary, Novos Baianos, o samba de roda, os DJs, em cada espaço uma roda de capoeira, grupos ensinando dança de rua. Não deixar o turista sem dormir (risos). Apoiar os grupos folclóricos, os nossos blocos afros, enfim. Nossa terra é rica! Por isso, o carnaval de Recife e Olinda crescem a cada dia, eles mostram a sua cultura. O turista quer chegar na terra e vivenciar a cultura do lugar. Eles não querem ver o que já tem. Eles querem ver a cultura da gente, o carnaval da gente. Desde o aeroporto, a rodoviária deveria ter exposições da nossa cultura com artistas lançando seus trabalhos e o turista chegar e já ser impactado. O nosso aeroporto não tem vida, carrinhos velhos, enferrujados. Ali é nossa porta de entrada. Precisam cuidar da segurança pública! Enfim, o Concar [Conselho do Carnaval] está aí e acredito que essa gestão será maravilhosa, vivenciaram a história do axé, desde o nascimento, são técnicos, e sabem do que falam.

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